O que podemos esperar do show de Madonna no Rio
Da redação Paulo do Vale com informações Billboard Brasil
Os rumores começaram no ano passado, quando fã-clubes
internacionais de Madonna noticiaram que a cantora tinha passado a madrugada de
19 de novembro gravando o comercial de um banco brasileiro no Palais Garnier,
sede da Ópera Nacional de Paris. A expectativa de que a Rainha do Pop pudesse
vir ao Brasil para algum show da “The Celebration Tour” era alta entre os fãs,
baseada apenas em especulações sem embasamento, vindas de redes sociais.
A peça publicitária se confirmou –era do Itaú– e estreou em
21 de fevereiro deste ano. De lá para cá, foram dias de ansiedade e esperança,
até que veio o anúncio no fim de março: “Brasil, estou chegando”, dizia ela, a
própria Madonna, em um vídeo que rapidamente se espalhou pelas redes. O show,
gratuito, foi marcado para acontecer nas areias de Copacabana, no Rio de
Janeiro.
A comoção foi grande, não só entre os fãs, mas também entre
os milhões de brasileiros que entendem a importância da cantora nestes 41 anos
de carreira. “Madonna continua relevante devido à sua habilidade de reinvenção,
engajamento com questões sociais, quebra de estereótipos de gênero, idade e
legado duradouro, tornando-a uma poderosa figura para associações de marcas em
busca de narrativas de sucesso e autenticidade”, analisa Dilma Campos,
professora universitária na ESPM e com MBA em gestão de projetos pela FGV.
“Hoje, aos 65 anos, ela é seguida pelo preconceito do etarismo, que é muito
pior com mulheres do que com os homens, mas traz a mensagem de que envelhecer
como quiser também é para nós.”
A previsão é que o show brasileiro encerre as 81
apresentações da turnê, no dia 4 de maio. Contará com uma estrutura de mais de
4 mil metros quadrados de palco, que teve de ser ampliado para a ocasião, e 16
torres de áudio e vídeo espalhadas ao longo da orla. São esperadas cerca de 35
músicas entre atualizações de seus maiores hits, intervalos instrumentais e
performances surpresa.
No espetáculo, Madonna recapitula momentos de sua
trajetória impecável, entoando canções atemporais, como “Holiday”, “Like a
Prayer”, “Vogue”, “Hung Up”, além daquelas nunca antes cantadas ao vivo, caso
de “Bedtime Story”, “Nothing Really Matters” e “Bad Girl”, esta última
acompanhada de uma de suas filhas, Mercy James, 18, tocando piano de cauda. Um
deleite para os fãs de carteirinha.
Números dignos de Madonna
Após o anúncio oficial, a rede hoteleira do Rio de Janeiro
observou um aumento de 80% nas reservas e de 30% de turistas estrangeiros
chegando ao aeroporto internacional do Galeão, segundo dados da prefeitura
–este será a única apresentação de Madge na América Latina. Somente da
companhia aérea parceira da turnê são 170 voos domésticos extras entre os dias
1º e 6 de maio, contabilizando pelo menos 15 mil passageiros a mais chegando. A
movimentação é inédita na Cidade Maravilhosa, mesmo se comparada à de festivais
de grande porte e vários dias, como o Rock in Rio. Só foi maior na Olimpíada de
2016.
A Polícia Militar escalou 3,2 mil agentes para atuar na
noite do show, e o governo do Rio de Janeiro usará o evento para testar o
programa de videomonitoramento urbano, que instalou inúmeras câmeras com
tecnologia de reconhecimento facial nas orlas, no metrô, em diversas ruas,
túneis e pontos-chave.
A área vip, que por segurança deve contornar todo o palco e
contará com convidados famosos, clientes dos patrocinadores e muitos fãs
sortudos, terá revista reforçada e até aparelhos de raio-x.
Uma passarela vai levar Madonna do Copacabana Palace, onde
estará hospedada com toda a sua equipe (ela vem com cerca de 180 pessoas), para
o palco na praia, como aconteceu com os Rolling Stones, em 2006.
A TV Globo, o Globoplay e o Multishow farão a transmissão
ao vivo e na íntegra do espetáculo. Esse feito também é inédito na carreira de
Madonna, já que ela nunca autorizou a transmissão de seus shows sem edição
prévia. Mesmo nos anos 1990 e 1993, quando as turnês “Blond Ambition” e “The
Girlie Show” foram exibidas em vários lugares do mundo, o conteúdo havia sido
gravado na véspera e devidamente revisado. Desta vez, o diretor Jonas Akerlund,
parceiro de longa data de Madonna, vai supervisionar os trabalhos junto à
equipe da emissora carioca.
Números gigantes são frequentes na carreira da cantora. Ela
tem mais de 330 milhões de discos vendidos, 58 canções no Billboard Hot 100, R$
6,5 bilhões em bilheteria de shows e se prepara para mais um recorde: ao que
tudo indica, o público presente em seu show no Rio será monstruoso, quiçá o
maior da história, batendo os famosos Réveillons.
Moda como expressão
Rainha do pop, mas também da liberdade feminina, da
controvérsia e da coragem de se reinventar a cada trabalho, independentemente
das vendas, Madonna criou o conceito de eras, aliando canções a videoclipes bem
trabalhados e visuais que inspiraram e inspiram o mundo da moda e da cultura
pop até hoje.
Tanto que, em cada álbum, evoca uma persona diferente. Em
“Erotica” (1992), ela apresentou o alter ego de Dita Parlo, uma mulher livre de
amarras sexuais pronta para realizar seus desejos, com direito a máscara e
chicote. Em “Ray of Light” (1998), mostrou seu lado espiritualizado, inspirado
na cabala. Muito antes de “Cowboy Carter”, de Beyoncé, Madonna trouxe elementos
do country para o pop, vestindo-se de cowgirl em “Music” (2000). No seu mais
recente álbum, “Madame X” (2019), ela não é Madonna, mas, sim, uma espiã
internacional que se disfarça de várias outras mulheres.
Na “Celebration Tour”, surpreendentemente ela consegue
reunir todas essas e outras Madonnas –e ainda assim renovar sua imagem. O show
é repleto de releituras de figurinos icônicos e alguns deles são repetidos,
como quando veste seus bailarinos em looks originais na performance de “Bitch
I’m Madonna”, confundindo a plateia e fazendo a galera se perguntar onde está
ela naquele palco imenso.
Outra peça que mudou o mundo da moda, os sutiãs de cone de
Jean Paul Gaultier, reaparecem em “Vogue”, agora num vestido tubinho bordado e
redesenhado pelo estilista. O quimono de “Nothing Really Matters”, música que
abre o show, é autoreferência aos elementos japoneses que ela incorporou na
turnê “The Drowned World” (2001) e nos clipes da época, bem como a coroa de
cristais que remetem à figura da Virgem Maria. Quem não se lembra dos simbolismos
religiosos de “Like a Prayer”?
“Madonna teve uma influência muito significativa na moda ao
longo dos anos”, conta a estilista e empresária Lethicia Bronstein, uma das
mais reconhecidas do Brasil. “Ela popularizou o uso de meias arrastão e luvas longas,
que se tornaram ícones de seu estilo dos anos 1980; ajudou a trazer de volta a
tendência dos corsets e bustiês, incorporando peças sensuais em seus figurinos
e videoclipes. Foi mestra, também, em misturar diferentes estilos, ajudando a
popularizar o conceito de ecletismo da moda. Sem contar a mistura do masculino
e do feminino, desafiando as normas de gênero numa época em que não se falava
sobre isso.”
Lethicia conta que, em sua carreira, o corset virou
peça-chave em suas criações muito por causa da influência de Madonna.
Megashow para o Brasil
O que o público carioca, do Brasil e do mundo inteiro vai
assistir nas areias de Copacabana no dia 4 de maio é uma explosão digna de uma
turnê de Madonna. A apresentação de cerca de duas horas e 20 de duração se
divide em seis blocos, sendo o primeiro deles a chegada da cantora a Nova York,
com elementos teatrais da Broadway, e canções de sua primeira década de
carreira, entre elas “Everybody”, “Open Your Heart” e “Burning Up”, seguida de
uma homenagem às vítimas da Aids, com “Live to Tell” e “Like a Prayer”.
O bloco apelidado pelos fãs de Sex, em que Madonna veste
apenas bota e camisola, tem “Erotica”, “Bad Girl” e “Hung Up”. O burlesco e os
bailes da comunidade preta que inspiraram “Vogue” compõem o quarto ato. No
quinto, Madonna realça a importância da família, cantando “Mother and Father”,
ao lado do filho David Banda, 18, e a cover de Gloria Gaynor “I Will Survive”,
em que lembra visceralmente os cinco dias que passou em coma numa UTI após
infecção bacteriana, no começo do ano passado –o que quase causou o
cancelamento da turnê. Por fim, a grande celebração, que dá nome ao espetáculo,
culmina com performances catárticas de “Ray of Light”, “Rain” e “Celebration”.
Mudanças na apresentação
Muito se especula sobre como um espetáculo feito para
arenas será adaptado para a Praia de Copacabana. Esse é o único show da turnê a
ser feito sob medida para um lugar a céu aberto. Entre as inovações da “The
Celebration Tour” estão os telões móveis, que descem de marquises do teto e
fazem a cantora levantar voo pelo público em uma espécie de elevador em forma
de janela, como se desse uma espiadinha em seu passado.
Fã de carteirinha desde os 11 anos, quando viu Madonna pela
primeira vez na MTV no lançamento do disco “Confessions on a Dancefloor”, de
2006, Claudia Santos Avellar, 29, criou um dos principais canais de informação
sobre a Rainha do Pop em 2012, o “Madonna Literal”. O projeto é até hoje
referência em tudo relacionado à artista.
Essa dedicação a levará a ser uma das privilegiadas a
acessar a área vip em Copacabana, a convite do banco Itaú. O show ainda é
inédito para Claudia, que tem altas expectativas para a apresentação no Brasil.
“Eu quero ser transportada a décadas que eu não vivi. Pelo
que eu vi nos vídeos, é como se você estivesse numa apresentação dela de 1985,
de 1992, e por aí vai. É a carreira inteira da Madonna em duas horas. Imagina
isso numa praia”, finaliza, empolgadíssima, mencionando também as inovações
tecnológicas.
Imagem: Jean-Baptiste Mondino/Divulgação
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